O mito do paraíso terrestre, o Éden, aflora desde os tempos antigos da civilização humana. No tempo as fontes históricas o colocaram na Mesopotâmia. A terra entre dois rios (Tigre e Eufrates), como é chamada, não foi o local de um país nem de um só povo.
Santo Agostinho sustenta a existência material do paraíso mencionando seus quatro rios como Tigre, Eufrates, Nilo e Ganges. Na Vulgata, versão latina da Bíblia, a frase "no princípio era", correspondia a "no princípio era no oriente". As adaptações da ciência greco-romana ao cristianismo, produziram mapas geográficos circulares nos quais o Oriente se localizava no topo da carta e o paraíso se encontrava na Ásia. Esses mapas se inspiravam na Bíblia e se reportavam tanto a localização de lugares geográficos renomados quanto a referências históricas ao passado, localizando o paraíso na Mesopotâmia.
Pesquisas em âmbito arqueológico e genético demonstraram que a área associada às fontes históricas do Éden se sobrepõe à área em que foram domesticadas pela primeira vez cereais e animais do Neolítico: é uma região da Turquia sudeste, entre os cursos superiores do Tigre e do Eufrates, na parte central da região agrícola chamada de Crescente Fértil. Ali, aconteceu a "revolução neolítica": agricultura, estilo de vida sedentário, estratificação social, ritos civis e sacerdotais.
Ali também foram domesticados ovelhas, cabras, porcos e pelo menos uma das quatro linhagens genéticas dos bovinos atuais. A área central cobre a região associada ao Éden dos textos antigos.
Talvez aos olhos das populações de coletores/caçadores, os campos dos primeiros agricultores, ordenados e suficientes para prover estilos de vida sedentária, eram alguma coisa de desejável e superior em termos de qualidade de vida: eram o Paraíso.
O paraíso, segundo a Bíbllia |
O Crescente Fértil foi um lugar especial, abrigando uma riqueza da fauna, permitindo o desenvolvimento de grupos de caçadores/coletores, estimulando uma elaboração mítica e o estabelecimento de um espaço de culto. Paixões e lembranças da época, elaboradas e transmitidas às gerações seguintes podem estar na raiz das religiões monoteístas.
Não sabemos se ali existiu o paraíso na Terra. Certamente, ainda que de forma imprecisa, podemos considerar aqueles lugares, tempos e pessoas como o suficiente para justificar o argumento daqueles que acreditaram e acreditam no Éden.
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