Aula 3 de Astronomia - Continuação...
Vênus é um planeta com uma atmosfera esgotada, mas outro vizinho
rochoso da Terra conta uma história bem diferente.
 |
Deserto da Namíbia |
Na foto acima, vemos dunas do deserto da Namíbia. É um lugar absolutamente espetacular. Este lugar não é o
mais quente nem o mais seco deserto do mundo, mas estas dunas são algumas
das mais antigas dunas de areia do mundo. Existe uma grande analogia entre a superfície de Marte e este deserto. É com isto que a superfície de Marte se parece. Essas dunas, denominadas dunas Barchan, em forma de
meia-lua, são idênticas às dunas de areia de Marte. Então, se você quiser ter
uma idéia de como se pareceria a superfície de Marte, este é o lugar para vir.
 |
Imagem de Marte tirada pelo robô espacial Opportunity |
Há um
veículo rodando na superfície do "planeta vermelho" hoje, denominado Opportunity. As sondas
e naves espaciais que circundam o planeta enviam imagens que mostram Marte
em extraordinários detalhes. Marte tem vastas dunas, vulcões enormes e
geleiras gigantes. Tem cânions e vales fluviais. Marte é a versão seca e gelada
de nosso lar, coberto de poeira vermelha e areia. E tudo isso devido ao fato de
que Marte praticamente não tem atmosfera.
 |
Acima, sequência de fotos mostrando Cânions, Geleiras e Vulcões em Marte |
Mas há indícios de que as coisas
nem sempre foram assim. Uma foto tirada da superfície de Marte em
Agosto de 2009, mostrou uma rocha cravada na superfície de Marte, em frente ao robô. Esta rocha é, na verdade, um meteorito de ferro e níquel de mais ou
menos uns 60 centímetros de diâmetro e pesa meia tonelada. Veio do espaço, atravessou a atmosfera marciana e parou no chão. Mas o mistério é que, um
meteorito desse tamanho, se chocando com Marte hoje, se desintegraria quando atingisse
a superfície. Ele estaria viajando muito rápido e isso porque a atmosfera de
Marte é muito fina, muito difusa para freá-lo. Mas esse meteorito está definitivamente
lá. Então, como poderia ter chegado ao solo? Bem, deve ser porque, no passado, quando
o meteorito atingiu Marte, A atmosfera de Marte era significativamente densa o suficiente para retardar a velocidade deste
pedaço de rocha que conseguiu pousar intacto na superfície.
 |
Rocha da superfície de Marte fotografada pelo robô Opportunity |
Mas por que Marte perdeu sua atmosfera e se tornou
o planeta estéril de hoje? Há tantas maneiras de planetas perderem suas
atmosferas que parece um milagre ainda
termos a nossa.
Mas, com Marte, é consenso que um dos mecanismos
dominantes foi a interação com os ventos solares.
O vento solar é um fluxo de partículas superaquecidas,
eletricamente carregadas que
constantemente fluem do Sol a um milhão de quilômetros por hora. Esta onda de
átomos esmagados tem poder para tirar de um planeta sua atmosfera. Na Terra,
estamos protegidos contra esse ataque por um escudo invisível que circunda
completamente nosso planeta, conhecido como magnetosfera. A magnetosfera é
criada na zona profunda do núcleo de ferro fundido da Terra. Quando o núcleo gira, gera
um poderoso campo magnético que surge
no pólo e envolve todo o planeta. Essa blindagem magnética tem força para desviar
a maior parte do vento solar. Ora,
sabemos que em algum momento, no passado, Marte teve também um núcleo fundido e um campo magnético. Mas
porque Marte é um planeta menor que a Terra, perdeu seu calor mais rapidamente e
o núcleo solidificou. Correntes elétricas não podiam mais fluir e seu campo
desapareceu. E esse foi um importante fator que permitiu que o vento solar atingisse o planeta e removesse sua atmosfera. Sem
atmosfera para isolá-lo, esse mundo, outrora como a Terra, transformou-se no deserto gelado que vemos hoje. Uma
sombra de sua formação original.
 |
Magnetosfera Terrestre - Protege nosso planeta dos efeitos do "Vento Solar" |
Embora Marte tenha perdido a maior parte de
sua atmosfera, essas moléculas que ainda permanecem têm o poder de esculpir e
mudar a superfície E esse poder, esse efeito transformador, está presente em
cada planeta do sistema solar que possui uma atmosfera. Você pode vê-lo
modificando a superfície do deserto da Namíbia, como dissemos. É, naturalmente,
a força da natureza que chamamos de clima. O clima é uma
característica de cada planeta com uma atmosfera. Nosso mundo é modificado
quando a massa de ar se move através de sua superfície. Mas, quando olhamos para
o sistema solar, vemos que só precisa de uma atmosfera mínima para produzir um
clima espantoso. Todos os anos, tudo em Marte desaparece em um
redemoinho de areia. As tempestades de areia globais são tão grandes que cobrem o Olympus Mons, um vulcão três
vezes maior que o Everest.
 |
Todo ano, gigantescas tempestades de Areia cobrem a superfície de Marte |
Mas para a experimentarmos o clima mais extremo e
violento no sistema solar, precisamos viajar até Júpiter.
 |
Júpiter - O Maior Planeta do Sistema Solar |
Esta faixa gigante de
gás tem mais de 140.000 quilômetros de diâmetro. Sua atmosfera não
é uma fina linha azul. É de milhares de quilômetros de espessura e um estado constante
de movimento fervilhante. Toda a superfície ferve com tempestades gigantescas.
Porém,
este estranho mundo compartilha uma característica com o nosso planeta. Júpiter
crepita ao som de tempestades elétricas.
Os relâmpagos são milhares de vezes mais brilhantes que um relâmpago na Terra. A
física das tempestades de Júpiter é a
mesma das tempestades da Terra. O ar quente e úmido da atmosfera começa a
subir, e à medida que sobe esfria. E a umidade condensa e forma as nuvens. Ora,
o ar ascendente deixa uma lacuna abaixo dela, uma área de baixa pressão, e
quanto mais quente, mais ar úmido é sugado, aumentando a tempestade.
 |
Tempestade elétrica em Júpiter |
Na Terra,
os sistemas de tempestades são movidos pelo poder do sol. Eis um mistério,
porque as tempestades em Júpiter são muito mais poderosas, ainda que Júpiter
seja cinco vezes mais distante do Sol que a Terra, o que significa que recebe
25 vezes menos energia solar. Que mecanismo teria poder de
provocar tempestades tão violentas em Júpiter? O segredo para as tempestades em
Júpiter está escondido dentro do gigante gasoso.
Na Terra, temos limites claros
entre o céu gasoso, os oceanos líquidos e a terra firme. Mas em Júpiter, não
existem tais fronteiras. É um gigante gasoso, com dois elementos mais leves e
abundante no universo, hidrogênio e hélio. Mas quando você vai fundo na
atmosfera de Júpiter, algo muito estranho e interessante acontece com os gases.
A atmosfera de Júpiter é tão grande e sua atração gravitacional tão forte, que 20 mil
quilômetros abaixo do topo das nuvens, a pressão é 2.000.000 vezes maior que a
pressão na superfície da Terra. Sob essa enorme pressão, o gás hidrogênio da atmosfera é transformado em um estranho líquido metálico. Quando os gases são
comprimidos, uma grande quantidade de energia é liberada, energia suficiente
para abastecer as maiores tempestades do sistema solar. A maior de todas é a Grande Mancha Vermelha. Este anti-ciclone gigante
vem ocorrendo por centenas de anos e é grande o suficiente para engolir a Terra
três vezes. A Grande Mancha Vermelha é um espetáculo impressionante.
 |
A Grande Mancha Vermelha de Júpiter - Uma tempestade de centenas de anos |
Quando passamos a visitar outros mundos, descobrimos
que as luas do sistema solar formam um surpreendente, interessante, variado e
fascinante conjunto de mundos.
 |
Esta é a lua de Júpiter, Europa. |
 |
Esta é a lua de Júpiter, Io, o objeto mais vulcânico do sistema solar. |
De todos os mundos lá
fora, a lua de Saturno, Titan, é única. Sua atmosfera é mil km mais profunda e quatro vezes mais densa que a
atmosfera da Terra. Quero dizer, imagine
que uma lua gira em torno de um planeta gelado, nos rincões do sistema solar
com uma atmosfera mais densa e mais espessa do que a nossa. Titã tem a
atmosfera mais parecida com a da Terra, em todo o sistema solar. Uma grossa
linha azul, rica em nitrogênio e contendo metano.
 |
Titan - Lua de Saturno com uma rica atmosfera de Nitrogênio e Metano. |
À primeira vista, esse
pequeno mundo não poderia reter uma atmosfera tão densa, exceto que Titan
encontra-se em uma das regiões mais frias do sistema solar, e isso faz toda a
diferença. A temperatura para gases como este, os gases de nossa atmosfera, é
realmente uma medida de quão rápido as moléculas do gás estão se movimentando. Quando você aquece um gás, significa, basicamente, que você aumenta a
velocidade de todas as moléculas deste gás. À medida que as moléculas de ar se aquecem e
se movem mais rápido, a pressão do ar força as moléculas a sair. Gás quente tem mais energia para
fugir da gravidade de um planeta que gás frio. Titan é um corpo menor que a
Terra. Tem força gravitacional muito mais fraca, e se estivesse na mesma região
do sistema solar que estamos, não seria capaz de sustentar sua atmosfera. Mas,
está muito mais longe do Sol do que a gente. Lá é mais frio, as moléculas de sua
atmosfera são mais lentas que as nossas. Significa que sua fraca gravidade pode
segurar essa atmosfera espessa e densa.
 |
Ilustração da Nave Espacial Cassini rumo a Saturno |
A espessa atmosfera de Titã foi uma
descoberta inesperada, mas desencadeou uma audaciosa missão para revelar ao
mundo o que está sob o cobertor de nuvens.
Decolamos a nave espacial Cassini para uma jornada de 1 bilhão de quilômetros até
Saturno. Em 1997, a Cassini iniciou sua jornada até Titan. Levou com ela a
sonda Huygens, destinada a desembarcar nessa lua congelada.
 |
A sonda Huygens em testes antes de ser enviada a Saturno |
No natal de 2004, Huygens
foi lançada a partir de Cassini e começou a difícil jornada através de uma das
atmosferas mais intrigantes do Sistema Solar. E então, pela primeira vez,as
nuvens se abriram e a superfície de Titã foi revelada.
 |
Imagens feitas pela sonda durante a descida na Lua de Saturno |
 |
Imagens da superfície de Titã |
O mundo revelado era mais familiar do que poderíamos imaginar. Ninguém tinha ideia do que
esperar. Não se sabia se haveria crateras como na lua ou só uma extensão plana
de areia, e, em seguida, estas primeiras imagens chegaram. Eram incrivelmente
familiares. Pedras arredondadas dominam a paisagem. São suaves e parecem ter sofrido
erosão pela água, semelhante a pedras encontradas no leito de um rio, aqui na
Terra. Foi uma descoberta extraordinária. Evidências de rios
correntes nunca tinham sido encontradas em uma lua. Mas não foi a única
surpresa que Titã havia nos reservado.
 |
Geleira Matanuska no Alasca |
Esta é a geleira Matanuska no Alasca. É
realmente um dos lugares mais impressionantes já vistos. E toda esta paisagem é testemunha do poder
erosivo deste material. Esta mistura de gelo e rocha à medida que rola vale
abaixo ao longo de centenas de milhares de anos, cria essa paisagem surpreendente. Mas a razão disso ocorrer é
o delicado equilíbrio da atmosfera da Terra. Nosso planeta tem temperatura e
pressão apropriadas para que exista água sólida, líquida e como o gás, como o
vapor nas nuvens. E assim o Sol pode aquecer os oceanos e levar a
água ao topo das montanhas. Ele pode cair como chuva, virar gelo, tornar-se uma geleira e então, se derramar pelo
vale para esculpir esta paisagem surpreendente. Assim como nossa atmosfera permite
que tudo isso exista, a atmosfera de Titã tem a temperatura e pressão ideais
para que exista algo que nunca havia sido visto antes em um mundo além da
Terra.
 |
Lagos de Hidrocarboneto em Titã |
Esta é uma foto tirada do pólo sul de Titã pela Cassini em junho de 2005, e se tornou uma das
imagens mais importantes e fascinantes da história da exploração espacial. A
parte interessante é essa massa negra. Esta foto é uma imagem de
radar. O preto significa que as ondas de radar que
passaram por elas não voltaram, por isso são completamente negras, e só há uma
boa explicação para isso. É que são
superfícies incrivelmente planas. De fato, são superfícies líquidas. Isso significa
que esta é a primeira observação de um líquido, um lago na superfície de um
corpo diferente da Terra, no Sistema Solar. Mas esses lagos, naturalmente, não
podem ser lagos de água líquida, porque a temperatura da superfície de Titã
é -180 Celsius e, a essas temperaturas, a água congelada é tão dura quanto aço.
Então, se não são lagos da água, de que são?
 |
Lago Eyak no Alasca |
Este é o Lago Eyak no Alasca,
próximo a Prince William Sound. Aqui existe uma molécula ou
substância muito abundante em Titan. Na verdade, é abundante em todo o sistema solar, mas aqui na
Terra existe como um gás e borbulha do fundo deste lago.
O fundo do Eyak é cheio de vegetação podre, folhas,
pedaços de árvores, que são consumidos por bactérias que produzem o gás que
borbulha do fundo do lago. Esse gás é o metano. Na Terra, o metano é muito instável. Se dermos
nele um leve click na presença de oxigênio, temos o que os químicos
chamam de reação exotérmica. Metano mais oxigênio gera água mais dióxido de
carbono e um pouco de energia. A temperatura e a pressão atmosférica da
Terra fazem com que o metano só possa existir como um gás altamente
inflamável. Mas a pressão atmosférica e a temperatura de Titã são ideais
para que o metano exista como sólido, gás e, mais importante, um líquido. As imagens capturadas
pela Cassini eram gigantescos lagos de metano líquido. O primeiro líquido já descoberto na superfície de outro mundo do Sistema Solar.
 |
Kraken Mare |
Este é Kraken
Mare. Tem mais de 400.000 quilômetros quadrados, É o maior corpo líquido de
Titã. Tem quase cinco vezes o tamanho do lago Superior, maior lago da América
do Norte. Em Titã, o metano executa exatamente o mesmo papel que a água aqui na
Terra. Então, onde temos as nuvens de água, Titã tem nuvens de metano com chuva
de metano. Como temos lagos e oceanos de água, Titã tem lagos de metano
líquido. E que, aqui na Terra, o Sol aquece a água dos lagos e oceanos, e enche
nossa atmosfera com o vapor d´água, em Titã o Sol eleva o metano dos lagos e
satura a atmosfera com metano. Enquanto na Terra o ciclo é hidrológico, em
Titan há um ciclo metanológico. E a chuva seria uma visão absolutamente mágica
em Titã. Porque a atmosfera é tão densa e a gravidade da Lua tão fraca, que as
gotas de chuva de metano podem crescer até um centímetro de tamanho e caem no
chão lentamente, como flocos de neve sobre o solo do nosso planeta. Milhares e
milhares de galões de metano líquido devem chover lentamente sobre a
superfície, fazendo com que rios e córregos encham e arrebentem.
 |
Chuva de Metano em Titã |
Ravinas profundas
cortadas na paisagem de água congelada parecem ser bastante familiares, porque são
familiares. É isso. A atmosfera de Titan forma a superfície, exatamente da
mesma maneira que a atmosfera aqui da Terra forma a superfície do nosso
planeta. Titan é como a Terra primordial presa em um profundo congelamento. É
quase como olhar para trás, no tempo, quatro bilhões de anos e ver nosso planeta antes da vida. O início da
mudança de nossa atmosfera, mudança para a atmosfera rica em oxigênio que vemos hoje. De várias maneiras, Titan parece
muito familiar. É um lugar com rios, lagos, nuvens e chuva. É um lugar com
água, ainda que congelada tão dura quanto aço, e um lugar de metano, embora tão
frio que o metano é líquido, que flui e forma paisagens
como a água faz aqui na Terra. O mais importante sobre Titan, é que agora temos dois mundos parecidos com a Terra em nosso sistema
solar. Um é essa região quente, 93 milhões de milhas de distância do Sol, e o
outro num congelamento profundo, a um bilhão de milhas de nossa estrela em
órbita de outro planeta, o que deve aumentar muito a probabilidade que
existem outros planetas como a Terra em órbita de centenas de bilhões de
estrelas lá fora, no Universo.
FIM
Nenhum comentário:
Postar um comentário